A tecnologia 5G, cuja comercialização se iniciará dentro de alguns meses em Portugal, irá permitir termos uma sociedade ainda mais interligada através da Internet, com maior velocidade de acesso a serviços e conteúdos, contribuindo assim para melhorar a experiência do utilizador.
As Cidades Inteligentes, em particular, irão beneficiar das três grandes promessas do 5G:
- Elevada concentração de dispositivos ligados à rede móvel, por km2 (telemóveis e outros equipamentos, bem como os sensores e dispositivos da denominada Internet of Things/IoT);
- Baixa latência de transmissão de dados;
- Altíssima velocidade de transmissão de dados.
Contudo, as altíssimas velocidades de transmissão ainda não vão ser usufruídas nesta primeira fase e, mesmo no futuro, pensa-se que só estarão disponíveis em cenários localizados em cidades e de forma limitada. Vamos ter, efectivamente, velocidades mais elevadas na Internet com a comercialização inicial do 5G, mas não vamos ter ainda a “altíssima velocidade”, pois esta só será possível de obter com a futura utilização de ondas rádio de altas frequências para transmissão de 5G.
A utilização das referidas altas frequências de rádio será apenas uma realidade a médio prazo, eventualmente em 2022 ou posteriormente, quando a ANACOM decidir atribuir essas frequências a operadoras (provavelmente através de leilão). Mesmo quando estas altas frequências forem uma realidade, é expectável que apenas sejam disponibilizadas em alguns locais urbanos específicos, devido a este tipo de frequências não serem eficientes em áreas com muitos obstáculos. Para colmatar essa ineficiência será necessário aumentar bastante o número de antenas para se poder transmitir nessas frequências tão elevadas, o que tem um custo adicional. Essas ondas de altas frequências a utilizar no 5G, tipicamente na gama entre 24GHz e 39Ghz (ondas milimétricas), apenas funcionam bem em determinadas condições óptimas, pois têm dificuldade em atravessar/contornar inúmeros tipos de obstáculos, quer sejam edifícios, os nossos corpos humanos, as árvores e a sua folhagem, painéis de avisos/publicidade, etc. As ondas milimétricas, pelo seu reduzido “tamanho”, têm problemas até de penetrar em pára-brisas de automóveis ou de funcionarem eficientemente em condições tão simples como de chuva forte.
No contexto das Cidades resta assim explorar, numa primeira fase, os benefícios mais imediatos que o 5G irá trazer relacionados com a ligação à rede móvel de forma massificada, em elevada concentração, de telemóveis, sensores (IoT – Internet das Coisas), etc., e com a baixa latência de transmissão entre dispositivos (isto significa que os equipamentos comunicam de forma mais rápida, pois latência está associada a “tempo de reacção”).
Logo após o arranque do 5G, e para o consumidor em geral, serão observadas melhorias óbvias da utilização da Internet em locais com grande concentração de pessoas, como espectáculos desportivos ou festivais (assim que a Covid-19 o permitir). Deixaremos de ter dificuldades para estar online e passará a ser possível que todos tenhamos o telemóvel ligado à rede nesse mesmo espaço limitado. Em cenários de mobilidade, fora de casa, os utilizadores irão também beneficiar de melhores condições para assistirem a videoconferências (maior velocidade) e até na utilização de videojogos (maior velocidade e baixa latência, ou seja, menor tempo de espera pela transmissão).
No médio prazo, iremos passar a tirar partido da baixa latência (alta rapidez de reacção) e grande concentração de dispositivos, para termos novos serviços inovadores como a comunicação entre automóveis, que será cada vez mais utilizada para tornar a condução segura e eficiente. Iremos, também nesse âmbito, beneficiar da partilha de informação sobre as condições do trajecto (sensores ou telemóveis interligados), como sistemas de alerta rápido (avarias, obstáculos, etc.), ajudas à condução (sinalização de mudança de faixa) e à navegação, etc..
Também numa segunda fase, o mercado estará mais apto a tirar partido da ligação massificada de dispositivos e sensores IoT em grande escala, em cenários organizacionais: fábricas, escritórios, serviços de saúde/emergência e segurança urbana, etc.. Surgirão aqui oportunidades de desenvolvimento de aplicações verticais (incluindo com inteligência artificial), com sensores/aplicações distribuídos pelos espaços das organizações, permitindo lidar com temas como a gestão remota de equipamentos, registo de consumos de electricidade, sistemas de alerta de avarias, registo de medições, entre outros.
Como em qualquer nova tecnologia, a aceitação da sociedade é também um factor crucial para o seu avanço e implementação. Com a facilidade de comunicação das redes sociais, tem-se observado o aparecimento de inúmeros grupos que propagam teorias de conspiração associadas ao 5G. Até ao momento, os fundamentos para estas teorias são inexistentes ou não apresentam provas científicas válidas e inequívocas, suportadas em revisão de pares. A maior parte destas teorias foca-se no uso das altas frequências de 5G, que nem sequer estarão disponíveis em Portugal nos primeiros anos. Ainda assim, é significativo que algumas cidades a nível mundial (Bruxelas, Genebra, entre outras) tenham imposto moratórias à implementação da tecnologia, aguardando por estudos convincentes sobre a segurança do 5G em termos de saúde pública. Mais preocupante é observar-se a ocorrência de extremismos, como a destruição de equipamentos como forma de protesto e ameaças a trabalhadores de telecomunicações. Pelo que se torna importante que sejam efectuados e divulgados estudos fiáveis e detalhados sobre os efeitos da transmissão em 5G. Tal como é crucial que os cientistas comuniquem de forma clara e acessível, bem como esclareçam sobre os receios e questões existentes por parte de algum público, pois são necessários factos credíveis para esclarecer os tópicos que levam a crenças e teorias irracionais. O que, eventualmente, possa existir de prejudicial na tecnologia (ainda por provar) deverá ser identificado e corrigido, como é normal no processo de evolução tecnológica e científica.
A nível nacional, algumas empresas e entidades começaram a trabalhar em investigação sobre 5G já há alguns anos. Na PDMFC, temos vindo a desenvolver produtos e serviços para a tecnologia de 5ª Geração desde início de 2018, no âmbito do projeto nacional Mobilizador 5G. Nesse contexto, encontram-se já em fase final alguns produtos de inovação que contamos virem a trazer benefícios para as Cidades Inteligentes do futuro:
- Drone de Patrulha, Drone de Emergência, Drone Turista e Drone de Eventos, com transmissão de vídeo 360º, em resolução 8K, sobre 5G;
- Sistemas de segurança para IoT de baixa latência, para utilização em ferrovia.
A tecnologia 5G vai entrar no mercado em breve e temos vindo a trabalhar para estarmos preparados aquando do seu arranque.
Nota: O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.